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20 de maio de 2024

Indústria vive expectativa positiva com reforma e investimentos 

DIA DA INDÚSTRIA Economia FIEB

A indústria possui um papel estratégico dentro do setor produtivo, impulsionando seu desenvolvimento e a inovação. Além disso, como demandante, promove a realização de serviços de alto valor agregado, como a pesquisa científica. O Brasil, porém, vem atravessando nos últimos anos um processo contínuo de desindustrialização. Mas há motivos para otimismo. A reforma tributária e a nova política industrial lançada pelo Governo Federal (ver box) abrem perspectivas positivas, e o Sistema FIEB segue pronto para atuar como indutor do crescimento industrial baiano.

A Bahia ocupa o 8º lugar no ranking nacional, sendo 7º na Indústria de Transformação, e é hoje o principal polo industrial do nordeste, com um Valor da Transformação Industrial (VTI) superior a R$ 75 bilhões, o que representa quase 40% de toda a região. O setor industrial é responsável por 67% das exportações baianas, contribui com 25% do PIB do estado e foi responsável por mais da metade (55%) da arrecadação de ICMS em 2023, com soma superior a R$ 17,5 bilhões. 

Em geral, os segmentos que têm melhores perspectivas, a exemplo de Vestuário e Alimentos, são os que dependem mais dos mercados internos. Imagem do Condomínio Têxtil no bairro do Uruguai, em Salvador. Foto: Divulgação.

A geração de empregos qualificados é outro dado relevante. A indústria baiana gera diretamente mais de 450 mil empregos formais, que produzem uma massa salarial anual estimada em R$ 19 bilhões. Os números são amplificados quando se examina a cadeia produtiva, já que, de acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), há um efeito multiplicador. Por exemplo: na indústria de refino de petróleo, principal segmento da Bahia, para cada emprego direto são gerados mais 39 indiretamente e mais 15 pelo efeito-renda (obtido a partir do consumo privado, que estimula a produção de outros setores).

O parque industrial baiano é bastante diverso em porte e segmentos, indo de microempresas a grandes players internacionais. O Polo Industrial de Camaçari ocupa posição de destaque, sendo maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul, onde estão congregadas mais de 80 empresas, notadamente químicas e petroquímicas, que convivem lado a lado com outros ramos de atividade, como indústria de pneus, celulose solúvel, metalurgia do cobre, têxtil, fertilizantes, energia eólica, fármacos, bebidas e serviços. 

De acordo com o Cofic, o complexo gera cerca de 40 mil empregos (10 mil diretos + 30 mil indiretos) e tem faturamento da ordem de 15 bilhões de dólares/ano. É responsável por 15% das exportações baianas, respondendo por 22% do Produto Interno Bruto da indústria de transformação da Bahia, com uma capacidade produtiva superior a 12 milhões de toneladas/ano (produtos químicos, petroquímicos básicos, intermediários e finais).

O Polo contribui ainda com uma receita superior a R$ 3 bilhões/ano em ICMS para o Estado da Bahia e com mais de 90% da receita tributária de Camaçari e Dias D´Ávila.  No último mês de abril, o governador Jerônimo Rodrigues assinou ordem de serviço para recuperação da infraestrutura do complexo, incluindo 19 pistas das vias internas e iluminação, entre outros itens. 

<< Setor químico no Polo Industrial de Camaçari. Foto de Rafael Martins/Sistema FIEB.

Perspectivas para 2024

A chegada da BYD, maior produtora de carros elétricos do mundo, é a grande novidade de 2024. A empresa chinesa já deu início às obras para a implantação de sua fábrica, localizada onde ficava o complexo da Ford, em Camaçari.  Com investimentos anunciados em mais de R$ 5 bilhões, deverá impactar todo o setor industrial do estado. 

“A produção de veículos elétricos está em linha com os desafios da neoindustrialização, podendo ser um importante elemento de construção de uma economia sustentável na Bahia. Ademais, há um compromisso de investimento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da BYD no estado, o que certamente fortalecerá nossa competitividade”, avalia Marcus Verhine, gerente- executivo de Desenvolvimento Industrial da FIEB. 

Equipe da BYD visita SENAI Camaçari, que vai capacitar profissionais para seleção na montadora chinesa. Foto: Valter Pontes/Coperphoto/Sistema FIEB.

A Bahia possui a 2ª maior refinaria de petróleo do país e o segmento de Refino responde por 24% do Valor da Transformação da Indústria do estado, com perspectivas de crescimento moderado em 2024. Atualmente, destaca-se o grande projeto anunciado pela Acelen de diesel verde, de origem vegetal, com a produção de até 20 mil barris/dia. O investimento programado é de cerca de R$ 13 bilhões, sendo cerca de R$ 2 bilhões somente para pesquisa e desenvolvimento. 

Já o segmento de energias renováveis (eólica, solar, biomassa e hidrogênio verde) tem recebido investimentos significativos: entre 2017 e 2023, foram mais de R$ 120 bilhões. A Bahia possui o maior potencial do Brasil para a produção de energia limpa e renovável e atualmente a geração de energia eólica e solar do estado é maior que toda a energia produzida pela Chesf (11,2 GW contra 10,6 GW, respectivamente). Em tempos de foco na sustentabilidade, esse é um ativo importante do estado e que oferece muitas oportunidades. 

A indústria química, que responde por 22% da indústria de transformação baiana e é o 2º segmento mais importante, enfrenta o ciclo de baixa da petroquímica mundial e aumento das importações brasileiras de petroquímicos em 2023. Nesse contexto, é importante a adoção de medidas que visem fortalecer o setor,  a exemplo do aumento de alíquota (por um período de transição) de importação dos produtos petroquímicos, elevando ao teto da OMC,  e a volta do REIQ original. O setor trabalha com a perspectiva de redução da produção em 2024, mas com índice menor que o de 2023, quando houve queda de 10,1% da produção química baiana.

As perspectivas são positivas também para os segmentos voltados para o mercado interno (Alimentos, Bebidas, Calçados, Couro e Calçados, dentre outros), considerando o processo de recuperação econômica do país, com a redução do desemprego e aumento da massa salarial. O segmento de Alimentos, terceiro maior da Indústria de Transformação da Bahia, com uma participação de 12,7%,  apresentou desempenho muito positivo em 2023, com alta de 11,2%. Para 2024, espera-se um menor crescimento da economia e, por isso, o índice, embora positivo, deve ser inferior ao do ano passado. Processo semelhante deverá ocorrer com o setor de Bebidas.

Para as atividades industriais voltadas para o mercado externo, como as de Celulose e Papel e  Borracha e Plásticos (produção de pneus), o cenário mundial continua conturbado e os principais mercados não devem apresentar perspectivas de grande crescimento, sobretudo a China, que foi o principal destino das exportações baianas em 2023.  

Construção Civil deve permanecer aquecido com obras do governo. Foto: Sistema FIEB.

Na Construção Civil, espera-se para 2024 maior vigor da habitação de interesse social com o programa Minha Casa Minha Vida, que está atrasado na Bahia. Destaca-se positivamente o efeito da queda da taxa de juros, que deve estimular as vendas no mercado imobiliário. O setor também vive a expectativa de lançamentos de programas de aceleração de obras públicas, notadamente de obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC.

Nova política industrial brasileira aposta na inovação e sustentabilidade 

A indústria brasileira passa por um processo de retração que já dura alguns anos e tem reivindicado mudanças estruturais no país para que possa voltar a crescer. A resposta do Governo Federal veio em janeiro deste ano, com  o lançamento da nova política industrial para o país. Batizada de Nova Indústria Brasil, é voltada para promover o desenvolvimento do setor industrial em direção à chamada neoindustrialização – modernização e evolução da indústria. Com metas e ações planejadas até 2033, a nova política prevê a criação de linhas de crédito especiais, subvenções, ações regulatórias e de propriedade intelectual, bem como obras e compras públicas para estimular o setor produtivo. Estão previstos investimentos  da ordem de  R$300 bilhões até 2026.

Segundo o governo, a nova política industrial posiciona a inovação e a sustentabilidade no centro do desenvolvimento econômico, estimulando a pesquisa e a tecnologia nos mais diversos segmentos.  A sua implantação prevê seis missões para serem desenvolvidas até 2033 relacionadas à ampliação da autonomia, à transição ecológica e à modernização do parque industrial brasileiro. Essas missões estão articuladas a metas aspiracionais, e para alcançar cada meta há áreas prioritárias para investimentos e um conjunto de ações. Entre os setores contemplados estão agroindústria, saúde, infraestrutura urbana, tecnologia da informação,  bioeconomia e defesa. 

Os R$ 300 bilhões disponíveis para financiamento serão geridos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapi) e disponibilizados por meio de linhas específicas, não reembolsáveis ou reembolsáveis, e recursos por meio de mercado de capitais, em alinhamento aos objetivos e prioridades das missões.

A aplicação desses recursos é norteada pelo Plano Mais Produção, conjunto de soluções financeiras que visa viabilizar o financiamento da política industrial de forma contínua nos próximos três anos a partir dos seguintes eixos: Mais produtividade – para ampliar a capacidade industrial, com aquisição de máquinas e equipamentos; Mais Inovação e Digitalização – projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação; Mais Verde – projetos de sustentabilidade da indústria; e Mais Exportação – incentivos para o acesso ao mercado internacional.

Algumas dessas iniciativas já estão em prática, como o Programa Mais Inovação (R$ 66 bilhões), operado pelo BNDES e pela Finep para apoiar a implantação de investimentos e projetos voltados para inovação e digitalização, sendo R$ 40 bilhões em crédito a condições de Taxa Referencial (TR) +2%. Vale destacar que essa modalidade representa os menores juros já aplicados para financiamento à inovação no país.

A Nova Indústria Brasil busca ainda promover a melhoria do ambiente de negócios através da desburocratização. Para isso, inclui 41 projetos, sendo 17 a serem executados pelos próximos dois anos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), com o objetivo de enfrentar alguns dos principais desafios apresentados pelo setor produtivo para aumentar a produtividade e a competitividade das empresas e melhorar o ambiente para investimentos, reduzindo o chamado “custo Brasil”.

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