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30 de maio de 2023

FIEB 75 anos: Economia circular na ordem dia na indústria baiana

FIEB FIEB 75 anos Sustentabilidade

Encerrando a série de reportagens do Mês da Indústria, um tema cada vez mais presente na agenda social

Aparas de tecido da Camisas Polo viram insumos para a produção de novos produtos por entidades sociais Foto: Divulgação/Camisas Polo

Quanto custa colocar em prática a economia circular? O empresário Hari Hartmann, da indústria têxtil baiana e presidente do Sindvest-Ba, sindicato das indústrias do setor, defende que não há custos. A prática beneficia o meio ambiente, diante da redução de resíduos destinados aos lixões, beneficia comunidades e as empresas têm a oportunidade de exercitar cidadania, ao apoiar entidades que atuam na área social.

É o caso da Camisas Polo, empresa da indústria têxtil, da qual Hari Hartmann é CEO. A indústria destina as sobras de tecido para entidades assistenciais. “A gente não está fazendo nada de mais, o que custa doar retalhos de tecidos? Isso já está pago” explica.  Para ele, “fazer economia circular é uma ação de cidadania”, diz.

Para Hari Hartmann, a mudança é reflexo da evolução dos negócios. “Há muito tempo a produção deixou de estar pautada no resultado econômico-financeiro. Pequenas ações, grandes resultados. É a nova economia que manda nisso”, afirma.

Promover desenvolvimento econômico, associado a um melhor uso dos recursos naturais, menos dependência de matérias-primas virgens e a adoção de novos modelos de negócios, com a otimização dos processos de fabricação. É assim que se define economia circular, conceito que está na ordem do dia em todo o mundo e que busca o uso de insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.

Numa revisão do conceito pela Organização Internacional de Normalização (ISO), economia circular “é um sistema econômico que utiliza uma abordagem sistêmica para manter o fluxo circular dos recursos, por meio da adição, retenção e regeneração de seu valor, contribuindo para o desenvolvimento sustentável”.

Estopas produzidas por voluntários de uma creche do bairro de São Cristóvao a partir dos retalhos recolhidos na Camisas Polo

Na prática, além do exemplo citado por Hari Hartmann, em que os tecidos se transformam em estopas, produzidas por voluntários de uma creche de São Cristóvão, ganhando nova vida útil, há outras iniciativas de grandes indústrias.

ZERO ATERRO

É o caso do Complexo Acrílico de Camaçari, unidade de produção Basf. Por meio da implementação do programa Zero Aterro, o Complexo tem destinado 100% dos efluentes à compostagem, reciclagem e coprocessamento. A iniciativa já evitou que mais de 156 toneladas de resíduos fossem descartados nos aterros sanitários da região.

A Basf também mantém parceria com cooperativas e fornecedores de Camaçari e região e direciona o lixo industrial para coprocessamento, que é transformado em combustível para cimenteiras; o sanitário para a reciclagem e o lixo orgânico dos refeitórios para a compostagem.

Complexo Acrílico da Basf, em Camaçari, adota práticas sustentáveis e política de zero aterro Foto: Divulgação Basf

Gerente de produção da unidade de Camaçari, Murilo Cantu de Faria Gozzi explica que o site do Complexo Acrílico, implantado em 2015, já nasceu com os pilares de sustentabilidade e economia circular.

Para ele, há possibilidades antes inimagináveis quando o foco é uma melhor gestão de resíduos e uma gestão sustentável. “Produzimos resinas para tintas a partir de garrafa pet; dá para fazer energia a partir do vento e do sol, consumir e trazer energia de volta e encontrar alternativas para destinação dos resíduos gerados”, lista Murilo Gozzi.

Na opinião dele, trata-se de um caminho sem volta. “Percebemos que dá para cocriar com a cadeia, parceiros e clientes”, explica o gestor da Basf, lembrando uma meta ambiciosa: chegar em 2050 com geração zero de carbono. Até 2030, a meta é atingir uma redução de 25% na geração de carbono.

O compromisso de neutralidade de carbono da Basf representa um investimento global de $4 bilhões de euros, sendo que $1 bilhão até 2025 e $2 a $3 bilhões até 2030 (25%), o equivalente a 20% do faturamento global da gigante da indústria química mundial.

Na avaliação de Murilo Gozzi, esta preocupação com o meio ambiente chegou um pouco tarde no contexto da industrialização global. “Entendemos o impacto que geramos no meio ambiente e precisamos ter esta mentalidade. É um trabalho de gerações”, destaca. Para ele, “a Basf só está começando e é um caminho positivo para se chegar à neutralidade de carbono. O próximo passo é tornar este índice negativo”, acrescenta.

Nas atividades desenvolvidas com empresas parceiras e no coprocessamento, o engajamento social revela-se de fundamental importância. A Basf realiza iniciativas voltadas para as comunidades vizinhas à planta de Camaçari, que incluem ações de educação e de consciência ambiental.

PRÁTICAS INTEGRADAS

Localizada no Condomínio Bahia Têxtil, na Cidade Baixa, a Camisas Polo, sempre teve uma preocupação ambiental e desde 2014 coleciona prêmios por suas iniciativas. No site da fábrica, a prática de economia circular se dá de diversas formas, a principal delas é por meio da doação de aparas de tecidos que se transformam em novos produtos que geram renda para uma creche de São Cristóvão.

O resíduo seco – papel, plástico, papelão, cones de linha – também é acondicionado em um galpão – que é aberto a todas as empresas que fazem parte do Condomínio Bahia Têxtil. O material é doado à Camapet, uma cooperativa também situada no bairro do Uruguai, que recolhe e recicla os resíduos, gerando renda e novos destinos ao que originalmente era apenas lixo.

“O que importa é que a gente não quer e não pode descartar em lixões resíduos têxteis. Eles são reintroduzidos em um novo ciclo de vida”, explica o empresário industrial, que também se preocupa em educar pelo exemplo. “A gente gosta de fazer isso também para que as pessoas que trabalham com a gente percebam que ações sustentáveis de meio ambiente trazem benefícios para todos”, acrescenta.

E de fato, as ações da Camisas Polo se multiplicam. Além da Camapet, que recolhe os resíduos secos, os retalhos das confecções geram de 800kg a uma tonelada de material, que são destinados semanalmente à Creche Fonte de Luz, localizada no bairro de São Cristóvão. Lá, os retalhos se transformam em estopa, que são revendidas para oficinas e empresas do polo para limpeza.

Sobras de tecidos para confecção de punhos e golas de camisas polo se transformam em sacos de dormir Foto: Divulgação

Já os saldos de tecido maiores são reservados e, um dia por mês, a empresa convoca voluntários para produzir pequenas peças destinadas a entidades carentes. “São produzidas centenas de peças a cada 90 dias”, conta Hartmann, que revela que este é um dia de festa no Polo Têxtil e que conta com uma grande adesão.

Outro resíduo da fábrica, são fios usados nas golas e punhos das camisas. As sobras se transformam em sacos de dormir, que são doados para entidades carentes. A Camisas Polo também faz um trabalho de logística reversa com as roupas que são produzidas pela fábrica. Elas são transformadas em retalhos que seguem para doação. Quem pratica a logística reversa ganha descontos para aquisição de peças novas.

Hermida fala sobre os desafios para implantar a economia circular

Ações para mobilização da sociedade

O empresário Luiz Hermida, integrante do Conselho de Meio Ambiente da FIEB, avalia que na Bahia, a prática da economia circular ainda é incipiente. “A migração para a economia circular, na qual o material descartado passa a ser reutilizado e a ter valor, é o desafio de todos os segmentos institucionais, tanto do governo, como da indústria, comércio e o próprio consumidor” destaca.

Segundo ele, o avanço passa pela educação ambiental, que deve estar presente na escola e junto aos consumidores. “Quando se faz a educação ambiental se começa a estimular o setor que vai fazer a abordagem de captação desses materiais, por meio dos catadores, das cooperativas e algumas empresas que trabalham com a coleta desses materiais”, explica.

De acordo com Hermida, quando você deixa de descartar materiais nos aterros sanitários, se injeta valor na economia. “Estes recursos, que antes eram subtraídos do orçamento público na forma de um descarte, passam a ser um ganho, porque o catador passa a ser remunerado e esta remuneração se reverte em consumo”, explica.

Hermida, que também integra o comitê do Plano de Ação Territorial (PAT) da Economia Circular da Região Metropolitana de Salvador, uma iniciativa do Programa de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste (Prodeter), que conta com a parceria de diversos sindicatos da indústria, defende a necessidade de se ir mais longe. “É preciso que seja formatado um marco legal do setor de resíduos do Estado da Bahia. Isso passa por uma ação do poder público e por um movimento da indústria e de seus próprios consumidores para sensibilizar o governo”, defende.

Lauro Ramos, da equipe da superintendência estadual do Banco do Nordeste explica que o PAT da Economia Circular nasce de uma demanda das instituições, parceiros institucionais e econômicos do Banco do Nordeste da região metropolitana, que identificaram na economia circular a atividade a ser priorizada e fortalecida por meio de uma governança local.

“O objetivo é de se inserir em atividades produtivas de caráter sustentável para não somente fomentar as atividades empresariais em todos os níveis, dando a esses empreendedores condições favoráveis para torná-los competitivos, financiando máquinas, equipamentos ou garantindo capital de giro”, destaca Ramos. “Nossa preocupação vai nessa direção de tornar os empreendimentos sustentáveis e garantir emprego e renda a todos os atores que participam”, complementa.

Estados precisam avançar na implantação da logística reversa

Integração da FIEB com a indústria promove benefícios sociais

Para a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), o entendimento é de que a economia circular associa crescimento econômico a um ciclo de desenvolvimento sustentável. De acordo com a gerente de Meio Ambiente e Responsabilidade Social da FIEB, Arlinda Negreiros, ela permite a redução de custos/perdas produtivas, por meio da diminuição da dependência de matérias-primas virgens.

Entendendo a importância de apoiar a indústria baiana nessa jornada, a FIEB opera o Banco de Articulações Sociais, que promove a integração entre indústria e organizações do terceiro setor visando transformar excedentes de produção em benefícios sociais.  

O Banco de Articulações Sociais FIEB reconhece recicláveis e/ou reutilizáveis como materiais dotados de valor econômico e de valor social, reforçando esforços junto à indústria baiana para favorecer um ambiente mais justo e inclusivo socialmente no nosso estado.

Bancos de Articulações Sociais ativos – Portal Fieb:

(*) As peças utilizadas em reciclagem precisam estar limpas/higienizadas para a doação.

(*) As peças utilizadas em reciclagem precisam estar limpas/higienizadas para a doação.

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