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18 de abril de 2022

Bahia avança em energias renováveis

FIEB

O sol e os bons ventos que sopram na Bahia e fazem do estado um dos mais procurados destinos turísticos do Brasil também geram outra riqueza: energia renovável. A Bahia tem se destacado na geração de energia nessas duas fontes e tem excelentes perspectivas. Até 2025, mais de R$ 50 bilhões devem ser investidos no estado com a implantação de 74 usinas (63 eólicas e 11 solares), segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE).

O estado tem hoje em operação 268 usinas, somando as duas fontes, de acordo com a SDE. A maior parte delas, no setor de energia eólica. São 227 já em funcionamento, sendo que 31 destas entraram em operação em 2021. Na fonte solar, o estado conta com 41 usinas em operação, 12 delas em funcionamento desde o ano passado.

Esses empreendimentos asseguraram, em fevereiro deste ano, a geração de 1825,33 megawatts (MW) de energia a partir da fonte eólica (capaz de abastecer mais de 10 milhões de residências) e 365,09 MW a partir da fonte solar (capaz de abastecer mais de 2 milhões de residências), de acordo com a SDE, conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Os números da Bahia seguem a tendência de crescimento das energias renováveis no Brasil. Atualmente, a energia eólica é a segunda fonte da matriz energética brasileira, representando cerca de 11%, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). No ano passado, o Brasil bateu recorde de expansão, com cerca de 3,8 GW de nova capacidade instalada. Com isso, o país ultrapassou a marca de 20 GW de potência instalada. A expectativa da associação nacional do setor é de que, até 2026, esse total chegue a 33 GW, considerando os contratos fechados no país até o momento. A estimativa é de investimentos na ordem de R$ 80 bilhões nos próximos cinco anos, considerando apenas os contratos já assinados.

E a Bahia tem contribuído muito para o avanço do setor. O estado se destaca na segunda posição no ranking nacional, com 5,6 GW de capacidade instalada em operação. “Há pelo menos mais 5 GW em construção ou já contratados (que ainda não tiveram as obras iniciadas). A Bahia tem, portanto, um futuro muito promissor para o crescimento do setor eólico”, destaca a presidente da ABEEólica, Elbia Gannoum.

Somente aqui no estado, a Casa dos Ventos, uma das pioneiras no setor, tem no seu portfólio 4,1 GW em projetos viabilizados em construção ou em operação. Deste total, a empresa opera atualmente o Complexo Eólico Folha Larga Sul, em Campo Formoso (com 151,2 MW de capacidade instalada e 36 aerogeradores) e está construindo o Complexo Eólico Babilônia Sul, na região de Morro do Chapéu (com 360 MW de capacidade e 80 aerogeradores). A Casa dos Ventos ressalta que esses projetos atendem ou irão atender grandes empresas como Vale (Folha Larga Sul), Unigel, ADM e Valgroup (Babilônia Sul).

Além de ser uma opção economicamente competitiva, a energia eólica é aliada para a agenda de sustentabilidade cada vez mais presente nas organizações, como forma de mitigar a emissão de carbono. “As empresas, incluindo muitas indústrias, têm como objetivo a descarbonização dos seus processos produtivos e o alinhamento de suas atividades aos princípios ESG. Além da questão ambiental, a energia eólica tornou-se uma fonte muito competitiva, sendo uma opção estratégica economicamente”, avalia Lucas Araripe, diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos.

O potencial das energias renováveis da Bahia também pode ser aproveitado, atrelado à produção de hidrogênio verde, uma alternativa para a descarbonização. “As energias fotovoltaica e eólica são energias intermitentes, elas não podem fazer parte de mais do que cerca de 20% de uma matriz energética. E o que é que você faz com todo esse potencial que nós temos? Nós temos que transformar essa energia uma energia comercializável e transportável. Daí é que vem o grande interesse pelo hidrogênio verde”, ressalta o presidente da FIEB, Ricardo Alban.

Uma iniciativa importante neste sentido ocorreu no último dia 12.04, com o lançamento do Plano Estadual para Economia de Hidrogênio Verde na Bahia. Na oportunidade, foi assinado o contrato para a Elaboração de Estudos para o Desenvolvimento da Economia do Hidrogênio Verde (H2V) no estado, através de uma parceria entre a SDE e o Senai Cimatec.

Projetos híbridos

Uma tendência que deve contribuir para o avanço da geração de energia através de fontes renováveis são as usinas híbridas, modelo de geração que combina duas fontes em um mesmo projeto, cuja regulamentação foi aprovada em novembro do ano passado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Diretor da Eolus, empresa de consultoria no setor de energia, Rafael Valverde aponta que o novo modelo deve conferir mais competitividade aos projetos. Uma das vantagens é a complementaridade das duas fontes. “No caso da Bahia, o regime de ventos é noturno, que é quando ocorre maior incidência. Já a geração solar ocorre durante o dia”, diz.

Lucas Araripe, diretor da Casa dos Ventos, ressalta que a energia eólica tornou-se uma fonte muito competitiva. Foto: Marcos Hermes.

Atenta ao modelo vantajoso, a Casa dos Ventos tem um projeto para tornar híbrido o complexo Babilônia Sul, agregando geração solar à eólica. “O modelo é bastante positivo porque potencializa a capacidade dos parques. Há uma otimização do custo e do espaço dos parques e melhor aproveitamento das estruturas de transmissão. O parque híbrido permite a utilização mais eficiente da estrutura que existe para transportar a energia”, ressalta o diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos.

Aproveitamento dos ventos em alto-mar é promissor

Outro passo importante para o setor eólico no Brasil foi dado em janeiro deste ano, com o Decreto nº 10.946/2022, publicado no final de janeiro, pelo Governo Federal. O decreto, que entra em vigor em junho deste ano, dispõe sobre a cessão de uso de espaços físicos e o aproveitamento dos recursos naturais no mar para a geração de energia elétrica a partir de empreendimentos offshore (mar).

De acordo com a ABEEólica, 80 GW de projetos de eólica offshore estão em análise no Ibama. Foto: Shutterstock.

Trata-se de um avanço crucial para a implantação de parques eólicos offshore no país, na avaliação da ABEEólica. “Acreditamos que o decreto não apenas atende aos interesses públicos e coletivos como também é importante base para que o trabalho das empresas possa ser feito de forma planejada e organizada. Num setor que está dando seus primeiros passos, essa segurança é fundamental, para que tanto empresas como sociedade e governo saibam quais são os critérios técnicos, exigências, obrigatoriedades de estudos e os órgãos que responderão e serão responsáveis por analisar, aprovar e formalizar o avanço de cada etapa dos projetos, que possuem complexidade maior do que os de eólica onshore”, pontua a presidente da entidade.

Atualmente 80 GW de projetos estão em análise no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nenhum destes na Bahia, de acordo com a associação nacional do setor.  O potencial do Brasil em eólica offshore também é relevante na busca para conter os efeitos do aquecimento global, uma vez que é uma fonte de energia renovável de baixo impacto. “Significa uma grande capacidade de produção de energia, com elevado fator de capacidade (a medida da produtividade de um aerogerador) e sem emitir gases de efeito estufa na sua geração”, pontua Elbia Gannoum.

SENAI tem papel estratégico na capacitação de mão de obra

Entre os empreendimentos do setor eólico previstos para entrar em operação na Bahia neste ano está o Complexo Eólico Tucano, com 322 MW de potência, da AES Brasil, escolhido para um projeto pioneiro de capacitação de mulheres. Em parceria com o SENAI Bahia, a empresa capacitou 28 profissionais no curso Especialização Técnica em Manutenção e Operação de Parques Eólicos, realizado no ano passado.

Das participantes do curso, 12 já foram contratadas pela empresa. “Nosso objetivo é aproveitar a oportunidade de criação de novos postos de trabalho para ampliar a presença feminina nas posições operacionais, visto que o setor elétrico é um setor predominantemente masculino. Queremos promover uma mudança neste cenário e acreditamos que essa iniciativa contribui positivamente para isso”, explica a coordenadora de Sustentabilidade da AES Brasil, Andrea Santoro. Segundo ela, no ano passado o número de mulheres na empresa avançou 32% no quadro funcional geral e 29% na liderança entre 2020 e 2021.

Na Bahia, além do Complexo Eólico Tucano, a AES Brasil também é responsável pelo Complexo Eólico Alto Sertão II, localizado na região sudoeste do estado, nas cidades de Caetité, Guanambi, Igaporã e Pindaí, que tem parques com 230 torres eólicas e capacidade instalada para gerar 386,1 MW de energia.

A oferta de curso em parceria com empresas do setor industrial é uma das modalidades de formação de mão de obra oferecida pelo SENAI Bahia. “Estamos sempre atentos às demandas das indústrias, ofertando cursos alinhados às tendências de mercado e que permitem o desenvolvimento de novas habilidades e conhecimentos”, afirma a gerente de Educação Profissional do SENAI Bahia, Patrícia Evangelista.

Na área de energias renováveis, por exemplo, o SENAI oferece diferentes modalidades de cursos. Uma delas é o curso pós-técnico de Sistemas Fotovoltaicos, que capacita profissionais para atuar diretamente em sistemas de mini e microgeração. Outra opção também voltada para o setor de energia solar é o curso de curta duração de montador de sistemas fotovoltaicos.

Solar tem previsão de R$ 3,5 bilhões até 2023 na Bahia

Mão de obra especializada é essencial para o setor de energia solar fotovoltaica, também em expansão no Brasil. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) estima que a fonte solar fotovoltaica deverá gerar mais de 357 mil novos empregos em todo o país, somente em 2022. A maior parte destas oportunidades deve vir do segmento de geração própria de energia solar, que deve ser responsável por mais de 251 mil empregos.

ABSOLAR estima que a fonte solar fotovoltaica deverá gerar mais de 357 mil novos empregos em todo o país em 2022. Foto: Shutterstock.

A perspectiva da entidade é que, este ano, serão adicionados mais de 12,1 gigawatts (GW) de potência instalada, somando as usinas de grande porte e os sistemas de geração própria de energia elétrica. Caso a previsão se confirme, representará um crescimento de mais de 91,7% sobre a capacidade instalada atual do Brasil, hoje em 13,0 GW.

Os dados da associação também indicam que os novos investimentos privados no setor podem ultrapassar a cifra de R$ 50,8 bilhões em 2022, somando os segmentos de geração distribuída (sistemas em telhados, fachadas de edifícios, terrenos, propriedades rurais e prédios públicos) e geração centralizada (grandes usinas solares).

Na Bahia, a previsão da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDE) é que mais de R$ 3,5 bilhões sejam investidos até 2023. Atualmente o estado conta com 41 usinas em operação e outras 22 em construção.

O estado foi escolhido pela MRV para instalação da segunda usina de energia solar da empresa. Inaugurado em março passado, na cidade de Lapão, na Chapada Diamantina, o empreendimento conta com 900 painéis fotovoltaicos e deve gerar 490 MWh/ano, suficiente para suprir o consumo 12 mil habitantes de uma cidade por um mês. A usina foi instalada em uma área de 3.200 m², terreno arrendado do Instituto Água Viva, que atende crianças carentes em situação de vulnerabilidade na região. De acordo com a empresa, o investimento em energia fotovoltaica está alinhado com suas metas de ESG (Environmental, Social and Governance). A expectativa é que todos os empreendimentos da construtora tenham acesso à energia renovável de baixo custo até 2030.

Por: Marta Erhardt

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