Indústria tem novas áreas de expansão
Por Carolina Mendonça
Após quase três anos de queda, a Bahia registrou o “tombo” de 14,3% na produção física da sua Indústria de Transformação em 2021, de acordo com dados Pesquisa Industrial Mensal Produção Física – PIM-PF, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No primeiro trimestre desde ano, porém, o setor começa e se recuperar, com cerca de 3,5% de aumento na produção, enquanto o país registrou um declínio de 4,8% no mesmo período.
O fechamento da Ford, no início de 2021, e a redução na produção de derivados de petróleo da antiga Refina Landulpho Alves (atual Refinaria de Mataripe), que só teve seu processo de venda concluído em dezembro do ano passado, impactaram fortemente a produção industrial baiana, deixando uma base de apreciação bastante deprimida.
Os ventos, porém, começaram a mudar de direção ainda no ano passado, depois que as atividades da antiga Landulpho Alves foram assumidas pela Acelen, que vem apresentando bons resultados, e pelo crescimento de segmentos como Refino de petróleo e biocombustíveis, Minerais não metálicos, Alimentos e Produtos Químicos.
Além do aumento das atividades da refinaria, que, sozinha, representa quase 30% da produção industrial do estado, outros fatores contribuem para as expectativas positivas, de acordo com a analista econômico-financeira da Desenbahia, Adelaide Motta de Lima: a capacidade ociosa a ser utilizada pelas empresas no pós-pandemia, de um modo geral; as demandas dos grandes projetos de infraestrutura contratados pelo estado; a falta de perspectivas de novos eventos como o provocado pelo encerramento da Ford; além do ambiente mais favorável dos demais setores econômicos que vêm apresentando boas performances, notadamente o agronegócio.
“Os parques eólicos, a expansão do setor de saúde na Região Metropolitana de Salvador e mesmo as demandas do agronegócio podem se apresentar como caminhos para o deslanchar de investimentos”, acrescenta Adelaide Lima.
Foto: Divulgação
O superintendente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Vladson Menezes, destaca outros três segmentos que estão apresentando resultados positivos e que devem ampliar investimentos no estado, contribuindo para a tendência de crescimento da indústria baiana: a exploração dos campos maduros de petróleo onshore, Química e Petroquímica e Mineração.
Refinaria – “Quando a Acelen assumiu a operação da Refinaria de Mataripe, a operação estava em cerca de 65% de sua capacidade, atualmente já estamos em 95%, o que corresponde a aproximadamente 280 mil barris de petróleo produzidos por dia”, revela o vice-presidente de Operações, Celso Ferreira.
Ferreira pontua que a atividade não parou nenhum dia desde que a Acelen assumiu Mataripe, e que a empresa está em processo de transição planejada para evitar qualquer tipo de ruptura. “Só para se ter uma ideia, no pico da parada, previsto para outubro deste ano, chegaremos a cerca de 4 mil empregos gerados”, anuncia.
Além das paradas planejadas para manutenção e melhorias, novos processos e tecnologias serão iniciados até o final do ano. Em abril, a empresa anunciou a produção do gás propano especial, que vai abastecer principalmente a indústria brasileira que o utiliza na regulagem da pressão de saída nas embalagens de aerossol.
“Atualmente, a Argentina e a Bolívia são os principais fornecedores desse produto para o Brasil. A venda de propano especial pela Acelen visa atender um nicho que cresce cerca de 4% ao ano. A partir do ano que vem, nossa expectativa é exportar”, afirma Celso Ferreira.
Foto: Sergio Zacchi
Segmentos promissores – Recentemente, a 3R Petroleum assumiu a operação do Polo Recôncavo, adquirido no Programa de Desinvestimentos da Petrobras, em dezembro de 2020, por US$ 250 milhões. Formado por 14 campos terrestres de produção – Aratu, Ilha de Bimbarra, Mapele, Massuí, Cexis, Socorro, Dom João, Dom João Mar, Pariri, Socorro Extensão, São Domingos, Cambacica e Guanambi, o Polo inclui Candeias, o mais antigo poço comercial do país, com 80 anos.
A média diária da produção do Polo Recôncavo, em 2021 foi de aproximadamente 4.811 barris de óleo equivalente (boe), sendo 2.932 barris de óleo e 466 mil m³ de gás natural. “A aquisição do Polo Recôncavo, subsequente à aquisição do Polo Rio Ventura, abre caminho para a 3R estabelecer uma operação relevante na Bacia do Recôncavo, aumentando nossa atuação em território baiano”, avalia o CEO da 3R Petroleum, Ricardo Savini.
Maior player da petroquímica, a Braskem fechou 2021 com resultados significativos, tanto operacional recorrente quanto de lucro líquido e de geração de caixa. No primeiro trimestre deste ano, apresentou um lucro líquido de R$ 3,9 bilhões, 56% superior ao registrado nos três primeiros meses de 2021, de acordo com Carlos Alfano, diretor Industrial na Bahia.
“Olhando para o futuro, a Braskem manterá o foco em seus pilares estratégicos, que são a busca por maior produtividade e competitividade; o crescimento e a diversificação geográfica, de matérias-primas e de produtos; e a sustentabilidade. Assim, em 2022 a empresa prevê como importantes “avenidas de crescimento” os negócios de renováveis e de reciclagem e a melhoria da produtividade dos ativos existentes”, afirma Carlos Alfano.
A petroquímica está trabalhando para ampliar a produção de polietileno verde (PE Verde) nacionalmente e lembra que vem investindo na modernização das plantas de Camaçari, com projetos que otimizam o consumo energético, realizam manutenção preditiva com inteligência artificial e machine learning.
Na imagem ao lado, Carlos Alfano. Foto: Divulgação.
Mineração – A mineração tem reagido bem neste primeiro trimestre. Mesmo sofrendo com questões de logística, um problema histórico, cujas soluções chegam em doses homeopáticas, a valorização de minérios como o vanádio animam os produtores. “Nossa capacidade produtiva era de 800 toneladas por mês, atualmente produzimos 1.100 toneladas/mês”, conta Paulo Misk, CEO da Largo, mineradora que produz vanádio, em Maracás.
A mineradora é uma das duas empresas no mundo que fornecem vanádio de alta pureza para a indústria aeroespacial, importante também para a fabricação de baterias de longa duração. A empresa também passou a investir na produção de pigmento de titânio.
“A meta do nosso projeto é produzir dois terços do consumo brasileiro. Hoje a gente importa mais do que isso. Vamos aproveitar o footprint e recursos que já existem para agregar mais valor, gerando 50 empregos em Maracás e 400 em Camaçari, além de 4.950 indiretos”, anuncia Paulo Misk.
Foto: Divulgação
Mudanças estruturais – O horizonte da indústria baiana aponta para reais possibilidades de investimentos e crescimento. “A gente caminha, em passos largos, para uma transformação do panorama econômico do estado, principalmente com vetores que estão relacionados à mineração, energia solar e energia eólica. A industrialização dessas bases produtivas pode trazer perspectivas alvissareiras num curto espaço de tempo”, opina o presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia, Gustavo Pessoti.
No entanto, ele se mostra cauteloso sobre esta expectativa, dado o ambiente recessivo em que o país está mergulhado, com aumento inflacionário e desemprego, a falta de uma orquestração política que dê a estabilidade necessária para o funcionamento da estrutura econômica e os impactos da guerra na Ucrânia sobre as atividades econômicas do país.
“Não estou otimista com esta retomada da indústria baiana de forma mais plena. É sim, possível projetar um futuro melhor, relacionado à alguns segmentos em prospecção no estado, mas isso vai requerer esforço de planejamento, integração econômica, retomada das atividades e geração de empregos aliado às reformas estruturais”, explica Pessoti.
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“Nossa expectativa de investimento no quadriênio 2020-2024 é de 13 bilhões de dólares em projetos de mineração na Bahia. Será o estado com mais investimentos em mineração. Isso é inédito, mas é uma projeção, precisa virar realidade”, afirma Paulo Misk. Ele acrescenta que a concretização desta “promessa” depende de processos de licenciamento eficientes, projetos de logística a exemplo da FIOL e do Porto Sul, melhoria do ambiente de negócios, entre outras mudanças estruturais.
“Acredito que é um desafio que todos têm que se engajar, não só o novo governador, não só a FIEB, mas a sociedade. Precisamos pensar em como melhorar a educação, a arrecadação de impostos, atrair mais projetos e ampliar as habilidades profissionais do nosso povo”, acredita Misk, que também é presidente do Sindimiba – Sindicato das Indústrias Extrativas de Minerais Metálicos, Metais Nobres e Preciosos, Pedras Preciosas e Semipreciosas e Magnesita no Estado da Bahia.
O presidente da FIEB, Ricardo Alban, ressalta que, para superar questões históricas e o cenário de incertezas para fortalecer o setor, se faz necessária uma política industrial nacional. “Além de medidas macroeconômicas, precisamos de uma política industrial voltada para o aumento da competitividade, conectada à indústria 4.0 e que se adeque à nova realidade brasileira e global”, defende.