Brasil precisa investir R$ 42 bilhões para reverter elevado índice de perdas de água, diz estudo da CNI
País desperdiça 40% da água que sai da companhia de distribuição até chegada à torneira do consumidor. Na Região Norte, índice chega a 55%. Plano Nacional de Saneamento prevê universalizar serviços até 2033
Estudo inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o país precisa investir R$ 42,7 bilhões para reduzir o índice de perdas de água para níveis satisfatórios. Atualmente, a média nacional de desperdício de água – que é o quanto se perde no caminho entre a companhia de distribuição e a torneira de casa ou da empresa – é de 40%, o que significa que 4 em cada 10 litros de água ficam pelo meio do caminho, em razão de canos furados, tubulações defeituosas e dos chamados gatos, que são os roubos de água. Em países como Alemanha e Japão, o nível de perda de água é inferior a 10%.
De acordo com o estudo da CNI Saneamento Básico: a relevância do setor para o crescimento econômico e a melhoria do bem-estar, lançado nesta terça-feira (22) – Dia Mundial da Água –, esses investimentos na ordem de R$ 42 bilhões devem ser feitos ao longo dos anos até 2033, quando o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) prevê a universalização dos serviços de coleta de esgoto e abastecimento de água – hoje, 34 milhões de brasileiros (16,3% da população) não recebem água tratada. Os aportes necessários são de R$ 20 bilhões para o Sudeste; R$ 10,1 bilhões para o Nordeste; R$ 6,7 bilhões para o Sul; R$ 3,5 bilhões para o Centro-Oeste; e R$ 2,2 bilhões para Norte.
O índice de perdas é um indicador importante para o setor de saneamento, uma vez que reflete as condições de operação das companhias que distribuem água. O alto volume de água desperdiçada antes da chegada às residências reflete a situação precária das redes no país, decorrentes de investimentos insuficientes para manutenção do sistema.
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, destaca que o elevado nível de perdas de água é um dos principais retratos da ineficiência no sistema de saneamento básico, que buscou-se corrigir com a aprovação do Marco Legal do Saneamento, em 2019. Perdas em níveis tão elevados, lembra, não só ampliam desnecessariamente os custos de operação das prestadoras de serviço, como pressionam as tarifas cobradas do consumidor e das empresas para cobrir as ineficiências das companhias.
“Com tanto desperdício na distribuição, torna-se necessário captar mais água de nossos mananciais, o que eleva a pressão sobre os reservatórios, já afetados pelos impactos das mudanças climáticas. Tornar o sistema como um todo mais eficiente é positivo, não apenas do ponto de vista econômico, mas principalmente do ambiental”, afirma Robson Andrade.
Veja aqui o estudo Saneamento Básico: a relevância do setor para o crescimento econômico e a melhoria do bem-estar
Depois de décadas de uma regulação ruim e permissiva à má gestão das companhias de água e esgoto, a legislação passou a garantir a igualdade de competição pela rede para empresas públicas e privadas. Sancionado em 2020, o novo marco legal do saneamento básico estabeleceu metas de eficiência e cobertura universal de coleta/tratamento de esgoto e abastecimento de água – sob pena de rescisão dos contratos.
Na avaliação da CNI, o país só tem a ganhar com a rápida implantação do novo marco. A ampliação dos investimentos no setor é condição fundamental para o país reverter os atrasos no setor de saneamento. O sucesso de recentes leilões de companhias de água e esgoto em estados como Alagoas, Espírito Santo e Rio de Janeiro demonstram que o novo modelo de regulação do setor propicia a condição para os investimentos necessários à universalização do saneamento.
“Os resultados apresentados neste estudo são relevantes para a compreensão de que o investimento em saneamento básico é também um vetor de redução das desigualdades sociais, imprescindível para o desenvolvimento econômico e mitigação da pobreza do país”, destaca o estudo da CNI.
Investimentos necessários por região para reduzir perdas de água a níveis satisfatórios
Sudeste – R$ 20 bilhões
Nordeste – R$ 10,1 bilhões
Sul – R$ 6,7 bilhões
Centro-Oeste – R$ 3,5 bilhões
Norte – R$ 2,2 bilhões
Brasil – R$ 42,7 bilhões
Perdas de água por região (SNIS)
Norte – 55,21%
Nordeste – 45,67
Sudeste – 36,06%
Sul – 37,46%
Centro-Oeste – 34,38%
Média nacional: 39,24%
De acordo com o trabalho da CNI, o Brasil precisa investir R$ 593,3 bilhões nos próximos 11 anos para universalizar os serviços de saneamento, principalmente com a ampliação das redes de coleta/tratamento de esgoto. Segundo os dados oficiais mais recentes, 93 milhões de brasileiros (45,9% da população) não têm acesso ao esgotamento sanitário.
Universalização reduzirá em 40% doenças gastrointestinais
O estudo da CNI mostra também que a universalização do saneamento básico no Brasil tem o potencial de reduzir a taxa de internações do SUS por doenças gastrointestinais de 104,4 para 62,6 a cada 100 mil habitantes, o que equivale a queda de 40%.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), para cada dólar investido em tratamento adequado do esgoto e da água consumida são economizados US$ 4,3 em custos de atendimento médico-hospitalar no mundo.
O novo marco legal do saneamento básico, em vigor desde 2020, tem potencial para universalizar até 2033 os serviços de coleta/tratamento de esgoto e abastecimento de água no Brasil. “A importância da nova legislação reside no fato de que os benefícios da expansão do saneamento mitigam problemas de saúde pública associados à falta de saneamento básico, como óbitos e sequelas por doenças de veiculação hídrica e aquelas transmitidas por vetores que se reproduzem em ambientes não servidos, extremamente graves por sua própria natureza”, pontua o estudo da CNI.