Economia circular no foco da normalização internacional

Autoridades e lideranças de mais de 40 países se reúnem em São Paulo para reunião técnica da ISO e elaboração de normas mundiais voltadas ao tema

A economia circular é uma tendência sem volta, mas ao mesmo tempo um grande desafio para as empresas. Para aderir ao novo modelo de consumo, que alia o desenvolvimento ao melhor uso de recursos naturais, é necessário que se estabeleçam diretrizes e padrões mundiais para suportar o processo de gestão.

Esse foi o tema central do Workshop Internacional de Economia Circular – Um Mundo de Oportunidades, realizado nesta segunda-feira (2.10), na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP. O evento abriu a programação de reuniões plenárias do Comitê Técnico sobre Economia Circular da ISO (ISO/TC 323 – Circular Economy), que será realizada no Brasil até sexta-feira (6.10), para a discussão e elaboração de diversas normas mundiais.

O colegiado, dedicado à normalização no campo da economia circular, uma das vertentes decisivas para o êxito global da agenda do clima e a sustentabilidade dos setores produtivos, é constituído por especialistas internacionais de mais de 40 países, sendo o Brasil um dos coordenadores, por meio da Associação Brasileira das Normas Técnicas – ABNT.

“É uma honra e alegria para ABNT receber a primeira reunião plenária do comitê da ISO TC 323 no País. O encontro enfatiza a importância da economia circular, que diferentemente da linear que prioriza o reaproveitamento de resíduos, efluentes sanitários e industriais, materiais recicláveis e outros elementos que seriam passivos ambientais, se transformam em matérias-primas e novos produtos para diversos setores. Nesse processo, há um ganho econômico e ambiental, contribuindo com as ações de mudanças climáticas e para preservação e regeneração da natureza. Ou seja, estamos falando de um modelo comprovadamente mais sustentável”, ressaltou o Presidente da ABNT, Mario William Esper.

Neste sentido a ISO/TC 323 – Circular Economy promove e incentiva a padronização no campo da economia circular. Também busca cobrir todos os seus aspectos incluindo compras, produção, distribuição e final da vida útil do produto, bem como áreas mais amplas como mudança comportamental da sociedade. “No Brasil, temos trabalhado em linha com os propósitos do colegiado. A ABNT, com o apoio de diversas entidades, como a FIESP, CNI, lidera dois grupos de trabalho na ISO, que tratam de Economia Circular. Portanto, o Brasil é protagonista mundial nesse tema”, reforça Esper.

O Workshop abordou o tema em profundidade, reiterando o significado da normalização nessa área tão crítica para o planeta e a economia. “Essa é uma semana crucial para a normalização mundial, pois será a última etapa para que os países membros proponham entendimento comum em torno da economia circular que se torne realidade para empresas”, destacou Catherine Chevauche, presidente do ISO TC 323 – Circular Economy.

Kalil Cury Filho, diretor do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Fiesp destacou o papel da entidade em dialogar sobre oportunidades e estratégias da economia circular para os negócios. “Trata-se de um tema transversal para a indústria, na qual a FIESP/CIESP tem buscado capacitar toda sua cadeia de valor para sua efetiva aplicação”, afirmou.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia – FIEB, Carlos Henrique Passos evidenciou a vocação industrial do estado e a contribuição da entidade para que haja um melhor entendimento sobre economia circular por parte das empresas. “É um tema que envolve várias vertentes que precisam ser debatidas e eventos como esse trazem importantes reflexões e nortes”, disse.

Já o diretor-presidente interino da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico – ANA, Mauricio Abijaodi reforçou a importância da mudança de comportamento por parte da sociedade. “O maior ganho da economia circular é o social, portanto é necessário que haja uma ação imediata que repercuta diretamente na vida das pessoas”, destacou.

Boas práticas

O Workshop apresentou as melhores práticas relacionadas ao tema, com palestrantes renomados e especialistas estrangeiros que lideram a mudança para um mundo mais sustentável.

Durante painel, moderado pelo diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem, Jorge Soto, Catherine Chevauche, presidente do ISO TC 323, mostrou os benefícios das normas internacionais para a Economia Circular, além de ações e medidas que podem ser implantadas pelos países membros.

David Taveira, diretor geral da VEKA, líder mundial na fabricação de perfil de PVC para portas e janelas, apresentou case sobre a reciclagem de janelas e resíduos de produção pela empresa. “Fomos pioneiros. Há trinta anos, criamos o primeiro sistema de reciclagem de PVC e hoje já temos capacidade para reciclar de 100 mil toneladas”, destacou o executivo.

Marcos Silva, VP de Operações da Flex Brasil, ministrou painel sobre o Ecossistema de Economia Circular da Flex. “Estamos há mais de 25 anos no Brasil, com mais de 22 milhões/ano de produtos de tecnologia embarcados, 8 mil colaboradores e operações de ciclo fechado”, ressaltou o executivo.

Economia Circular em Nível Local  

O segundo painel do Workshop abordou iniciativas locais de economia circular, tendo como moderador Josué Graton, gerente de ESG e Economia Circular da FLEX. Participaram do painel, Karla Censi, gerente corporativa de Soluções Sustentáveis da Braskem, com apresentação sobre a jornada da Braskem em Economia Circular; Beatriz Luz, especialista em Economia Circular do Exchange 4 Change Brasil, com o case o Hub da Economia Circular e Natacha Britschka, especialista em Meio Ambiente da FIESP sobre O papel da indústria na transição para economia circular.

O terceiro e último painel sobre Aspectos Regulatórios na Economia Circular foi moderado por Roger Ebengou, diretor da Regulamentação Ambiental e Economia da Circular da Michelin, na França. A palestrante Lohana Ducasble, assessora Jurídica da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro falou sobre A importância da atuação do Poder Público na Economia Circular. Já Davi Bontempo, gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI – apresentou os Desafios e Oportunidades da Economia Circular para a Indústria brasileira. A programação foi fechada com Carolina Zoccoli, especialista em Sustentabilidade da Firjan, sobre Como a legislação e regulação podem (des)bloquear a economia circular.

O Workshop Internacional de Economia Circular – Um Mundo de Oportunidades está disponível no Canal da ABNT no YouTube e teve o patrocínio de Fit Flex Sinctronics, Braskem, Nextracker e Veka.